segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Quanto vale o tempo?

    Hoje, ao olhar pela janela do meu quarto,  fiz-me essa pergunta. “Quanto vale o tempo?” Assustei-me com a profundidade dela, o modo como me veio e principalmente pelo por que. Confesso que tudo isto e o fato de que neste exato momento tenho lágrimas nos olhos advém ingenuamente de um livro que é uma releitura de um conto de fadas. Sim, eu também acharia graça se fosse você.
    Nunca, ao simplesmente baixar um livro com o único propósito de ser mais um número na minha lista desse ano, poderia supor o quanto mexeria comigo. Você, se lê-lo, provavelmente vai me considerar meio... louca. Falo isso por falta de descrição melhor. O meu lado racional está gritando que estou fazendo um alarde por uma escrita meia-boca e um enredo de uma originalidade peculiar, mas previsível, enquanto meu lado emocional me lembra o quanto eu chorei ao me colocar no lugar daquela criança de cem anos de idade. Irônico, eu sei.
    Na verdade, estou agarrada ao meu travesseiro(sem coragem de tirar minha ursinha de pelúcia de roupinha rosa – chamada Romã – de dentro da embalagem que a protege do pó) indagando por que diabos as pessoas insistem tanto em fugir da realidade. Confesso que de um modo bizarro me vi em Rose Samantha Fitzroy, não porque tenha pais donos da maior empresa do mundo, capazes de comprar uma máquina e me colocarem lá dentro durante anos, ou meses dependendo do bom humor deles, para dormir. E sim porque nunca me permiti viver. Tenho minha própria máquina barata chamada alienação.
    Essas máquinas, a propósito, são intrinsecamente diferentes. Enquanto uma mantém jovem eternamente, a outra te tira alguns prazeres pueris, por causa do amadurecimento precoce, dependendo do caso, ou te transporta para uma dimensão paralela em que você simplesmente diz “dane-se” e vai viver – particularmente acho essa bem interessante. Mas por que criamos isso? Por que temos essa necessidade de fugir de fantasmas interiores que sabemos que não são reais? Por que não dá pra “encarar”? Nos afogamos no trabalho, livros, exercícios. Coisas que aparentemente são boas, até mesmo saudáveis que, entretanto, estão nos destruindo.
    Então você só olha para a janela. Quanto, quanto vale o seu tempo? Amanhã você pode acordar e perceber que seus pais, seus amigos, a sua familiar tecnologia, o amor da sua vida... tudo o que um dia foi você, simplesmente se esvaiu. Perdeu um dia, uma semana, um mês de férias, dois dias de aula, por nada. O seu alarme toca avisando da prova de matemática da semana que vem, do trabalho de física que você não fez e nada faz sentido.
    Viver dói. Simples assim. É muita mais fácil se afundar em alguma coisa e esquecer de si mesmo. Até a esperança de um milagre corta. Mas dormir por sessenta e dois anos só vai piorar tudo. Não é isso que quero dizer, afinal? Dê valor ao seu tempo. Permita-se.

14 comentários:

  1. Adoro os seus textos, Samyle. E especialmente este. A forma como você iniciou com uma pergunta assim tão simples, para filisofar sobre a vida e só no final respondê-la. Demonstrando que a sua conclusão só foi possível por causa desse texto. Enfim, gostei muito!
    Beijão!!

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    1. Você nota até isso? Quando parei para pensar, notei que de fato só havia me respondido após escrever... É como a frase da capa da fanpage: tem coisa que só sai da gente por escrito.

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  2. Meu Deus, os seus textos são maravilhosos. Sempre me fazendo pensar e refletir um pouco...

    www.modaevicios.com

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  3. "Amanhã você pode acordar e perceber que seus pais, seus amigos, a sua familiar tecnologia, o amor da sua vida... tudo o que um dia foi você, simplesmente se esvaiu." Uau, Samyle. Sabe, essa semana estive pensando sobre isso. Sério mesmo. Outro dia me deparei com a tristeza de uma amiga ao perder o seu amor. Ele morreu, um pouco dela morreu também. E eu pude ver o quanto eles gastaram tempo dizendo "não quero nada sério agora", enquanto podiam viver o amor que estava claramente estampado no sorriso dos dois. E isso me doeu, muito. Percebi como eu tenho tentado me esquivar das coisas, dos sentimentos, das situações, da realidade. O quanto eu tenho procrastinado a vida com a desculpa de que "amanhã faço isso ou digo aquilo". Pra mim, teu texto teve um significado especial. Não sei se esse era o foco que você tinha ao escrever, mas foi isso que eu enxerguei nas entrelinhas. A vida é uma só, e a gente vive como se pudesse passar tudo à limpo depois. Belíssimo texto. Aliás, belíssimo blog. Inclusive, me perdoe por não ter vindo aqui antes. Estou seguindo, e agradeço tua visita e comentário lá no meu blog (me deixou muitíssimo feliz). Beijo!

    http://sara-rsc.blogspot.com.br/

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    1. Nossa, essa história parece ser surreal, mas se pensarmos bem a vida é assim mesmo (é bem diferente quando a gente vê com os próprios olhos, não é?). Nos privamos de tanta coisa, embora também tenhamos obrigações, sei que há um modo de conciliar tudo, fazer valer cada segundo como precioso. Esse texto te convida a fazer a mesma pergunta: Quanto vale o seu tempo?

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  4. Desperdiçamos nosso tempo com pessoas e tambem com coisas que ao invez de ajudar estão nos tirando o tempo com as pessoas que um dia ja não mais estarão entre nos..

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  5. Que lindo texto Samyle! Quando acho que já li textos bonitos seus, você vem e aparece com esse! Ficou simplesmente maravilhoso! merece até um monte de exclamações no fim da frase rs

    Outro dia mesmo estava pensando a respeito do tempo, e como está passando depressa (e como nós o desperdiçamos com coisas bobas). "Amanhã você pode acordar e perceber que seus pais, seus amigos, a sua familiar tecnologia, o amor da sua vida... tudo o que um dia foi você, simplesmente se esvaiu. " outro dia mesmo acordei e percebi que tudo está passando, meus familiares que eu sempre conheci estão ficando velhos e frágeis (alguns já faleceram), meus conhecidos estão sumindo, até mesmo a tecnologia está começando a ficar complicada para mim. E olha que nem cheguei aos 20.

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    1. É assustador, não é? Até entendo um pouco essa gente que meio que se desliga da vida, o tempo é cruel às vezes, mas no fundo não adianta fugir. E eu só percebi isso há pouco tempo.

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  6. Já assistiu aquele filme O Preço do Amanhã?
    Me lembrou bastante esse seu texto, sobre a importância do tempo e de como ele é realmente valioso!

    Tudo passa tão depressa, não é? Voa, na verdade. O mundo passa e a gente nem nota. Isso me faz pensar: Você vive o seu HOJE?

    Difícil falar nisso sem pensar por vários momentos. Vivemos sempre no ontem (com lembranças e saudades) ou no futuro (com medos e ansiedades). E o aqui e o agora, onde fica?

    Gostei bastante do seu texto. Como sempre, me fez refletir!

    Beijos

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    1. Engraçado, no fundo não planejava falar exatamente sobre o quanto desperdiçamos a vida, embora esse seja um tema intrinsecamente relacionado. Eu só queria falar sobre a necessidade de fugir, do medo de arriscar, e acabou que cada um puxou mais para o lado que se identificou mais. Essa é a melhor parte da literatura.

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  7. Nossa, acabei de ler seu texto e comecei a analisar a minha vida e em segundos percebi que você o escreveu pra mim. Chega a ser engraçado como nós deixamos certas coisas que nos fazem bem de lado colocando a culpa no 'tempo'. Que lindo! Domingo eu completo mais um ano e me pergunto: Será que estou dando valor ao meu tempo? Fica pra a reflexão. Obrigada por abrir meus olhos.

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  8. Senti falta de ler textos assim. E de alguma forma, te faz parar pra pensar na sua vida e ver muita coisa! Graças à Deus eu tenho mudado, ou ao menos tentado, cansei de perder tempo, de deixar as coisas de lado e fazer o tempo fazer as coisas por mim. Estou tentando fazer valer a pena meu tempo;

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    1. Já percebeu como "fazer valer a pena" é uma tarefa sem fim? É por isso, acho eu, que a gente acaba cansando e embarcando num "sono", embora tal coisa não faça bem como parece.

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  9. Amei o texto, amei o Blog...vc esta de parabéns...ja estou seguindo e vou indica-lo com certeza ... se puder segue o meu Bjos

    http://lillyanamakeup.blogspot.com.br/

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